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(Re)soluções.

Deixar 2008.

Arrumar cada número no seu armário: dobrar bem as memórias, trancar as recordações, levar no bolso as mais doces. Livrar-me da tralha, livrar-me do acessório. Fazer-me à estrada, rumo às prioridades,

prioritar a ambição,

a vontade,

o desejo.

olhar última vez nos olhos de seus amores.

fechar a porta.

sair.

Sunset Strip, L.A.

A queda (2004).

Prova nenhuma confirma tão certamente que o mal não transcende este mundo. O inferno esteve e está presente na terra, tão certo como eu existir. O ser humano pode ser tão ser humano como um leão a decapitar um veado, como uma aranha a comer a sua cria, como um animal sem dó, nem piedade, nem senso comum. E ser capaz de exercer o mal é tão impensável, não, eu sou uma boa pessoa, não, eu nunca faria mal a ninguém, não, não vai acontecer.

Não, sim.

Esperneamos como loucos por mais, por demais, os poros transpiram uma ganância contida, os olhos esbugalham-se na galinha do vizinho,  as armas disparam em todas as direcções, as armas disparam até o sangue cobrir o mapa das conquistas. Como que acorrentados à insaciedade, não sei. Tropeça-se em rasteiras alheias, trazem-se no bolso facas, cobrem-se verdades menos convenientes. Não falta goela para criticar outrém. Olhar ao espelho, nunca.

Errar é humano. Que o digam aos filhos dos seis milhões de Judeus. Que o digam a mais de doze milhões de almas mortas sob escravatura. Que o digam aos cinquenta milhões de vítimas da segunda guerra.

Fuck Hitler.

yeah baby!

( angrylittlegirls.com )

lingua(gens).

"a língua inglesa fica sempre bem, e nunca atraiçoa ninguém." sim. e por quê? se é um código decifrado, um cofre aberto... por que é que dá lugar a trezentas interpretações, cinco mil devaneios, um milhão de conjecturas? por que é que as palavras ficam mesmo bem?

em português, as palavras são mais vulneráveis, mais frontais, e não são fáceis de entender. ou por outra, é mais difícil elevá-las, trocar-lhes as voltas e dar-lhes sentido, um sentido tangente ao coração. o dito torna-se menos mágico, mais objectivo. sem capas estrangeiras é como escrever a nu, parece discurso directo, parece que todas as palavras me saem da boca tintin por tintin tal como estão escritas, parecem um espelho à minha alma. mesmo que não o sejam, é isso que me agrada na língua portuguesa. está-me no sangue e corre-me nas veias, desmembra-se nos meus pensamentos e descobre recantos desconhecidos, reinventa-os.

inventar.

inventar, inventar, inventar palavras cruzadas, jogos de palavras, palavras-chave.

o que precede; o que anuncia.



Bach, Prelude on C minor.

fngkdjnçslkjnliwndzmnhdjwk.

de súbito vem o frenesim da caneta. é estar a milhas de uma folha onde possa desbobinar-me, e encontrá-la e agarrá-la firme. é unir-me à caneta e fazê-la dançar com a minha mão. é o coração a precisar de uma leveza que chega tarde, de ar fresco, de um alívio ansiado. descarregar o peso das batidas de um coração incerto, insatisfeito, um coração-pergunta. pensamentos por ordenar, perguntas a precisar de ganhar forma, e eu de braços cruzados, porque escrever não dá frutos, porque escrever é acessório, porque não faz falta. a verdade, é que faz. a verdade, é que as minhas respostas acabam sempre por estar escondidas, algures, nestas entrelinhas.

cores neutras.

curvas perigosas, adrenalina, sentimentos vertiginosos, montanhas russas interiores: não as reconheço em mim. não tenho por quem escrever. quem me eleve as palavras, quem me as faça estremecer e avermelhar.

(faz-me confusão.)

j o y di vi sion.

when the routine bites hard

and ambitions are low

and this resentment rides high

but emotions won't grow

and were changing our ways

taking different roads

then love, love will tear us apart.

foto: Roy Lichtenstein